terça-feira, 10 de maio de 2011

Qualquer maneira de amor vale a pena. (uma reflexão sobre a lei aprovada pelo STF)

E desde então, sou porque tu és
E desde então és, sou e somos
E por amor
Serei... Serás... Seremos...”
Pablo Neruda

Os gays de todo o Brasil que sonhavam e esperavam já podem comemorar. A quinta-feira, 05 de Maio de 2011 tornou-se um marco na evolução democrática brasileira. O Supremo Tribunal Federal reconheceu, a partir de votação, com unanimidade de votos a favor, que é legítima e legal a união homoafetiva, a união entre pares do mesmo sexo, o casamento gay (os termos variam). Com isso os homossexuais passam a ter direitos dentro do casamento e (bate na madeira) com o término dele, tais quais os adquiridos em uma união heterossexual oficializada. Os direitos são os mesmos, salvas algumas não esclarecidas exceções (típico).
Não igualaram-se as uniões, na verdade elas equipararam-se, segundo a nova lei. A leitura nos permite concluir (como leigos pensantes) que ainda não se dá aos pares do mesmo sexo o status de “entidade familiar”, reconhecem-se apenas como um “casal gay” dentro de uma união estável. Sem querer trocar em miúdos a discussão sobre esse assunto que já foi, em outras épocas, considerado tabu, conclui-se que o avanço foi enorme mas deixa a sensação de um grito mudo, com ares de hipocrisia velada. Mas, aqui é Brasil e por aqui os gays conseguem ter reconhecido o direito de oficializarem sua união antes mesmo de terem o direito de andar pelas ruas, trocar carinhos ou manifestar afeto em público sem correr os riscos todos, inclusive o de morte.
O maior avanço, ou ainda, o mais aguardado, seria a criminalização da homofobia. Os “politiqueiros” deveriam voltar as atenções mais fortemente sobre esse tema. Os gays se casam e vão comemorar onde? Passearão em quais parques com os filhos? Vou me repetir: hipocrisia velada, sim, de uma lei votada por votantes tolerantes (tolerantes?). A notícia rende ótimas manchetes mundo afora e as agressões, os xingamentos, as demissões ou não contratações de gays continuam acontecendo internamente.
Igualar, equiparar, ser aceito como casal, ser encarado como família, ser monogâmico, ser dependente, herdar os bens, ser amado, ser feliz... Os verbos e adjetivos ficam por conta do Houaiss ou do Neruda. Acabei sendo catártico demais. Não estou me posicionando contra a lei recém-nascida, aliás, sou entusiasta de todos e quaisquer direitos adquiridos, com ou sem luta, mas acho, realmente, que existiam outros mais urgentes e que atenderiam aos direitos primários do ser humano homossexual, inclusive o de ir e vir, de mãos dadas e em paz.

Rafael Maligeri    em CULTURE-SE

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